domingo, 29 de abril de 2012

A felicidade interna do rei do Butão

Já não é de hoje que se promove o tal indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB), segundo o qual a medição do progresso de uma comunidade ou nação não deve ficar restrita ao desenvolvimento econômico, mas deve avaliar o bem-estar psicológico, a saúde, o uso equilibrado do tempo, a vitalidade comunitária, educação, cultura, resiliência ecológica, governança e padrão de vida.
Acredito que pouca gente seja contra a sociedade perseguir individualmente tais objetivos, mas há dois perigosos elementos do discurso pelo FIB: (1) a prosperidade econômica é uma imposição maléfica que deve ser "sanada" e (2) é necessário promover uma mudança social em prol do bem-estar coletivo em parceria, também, com o governo.
Isso reforça o mito de que a economia é um corpo estranho e danoso para a sociedade. E que o mercado é formado por um grupo pequeno de grandes empresas que controlam tudo e a todos, e não por cada de um de nós, do pipoqueiro ao consumidor até os grandes empresários. O mercado somos nós.
O segundo ponto talvez seja mais grave por reforçar uma certa agenda política que faz uso da palavra coringa "social" com o objetivo de legitimar suas finalidades.
Como, no Brasil, movimento social é algo que está (ou quer estar) intimamente ligado ao governo, de preferência financiado pelo nosso dinheiro, temo que seus defensores virem mais um braço do partido no poder a defender o modelo estatista, que está na origem do horror contra o mercado e a iniciativa privada.
Talvez soe bonito acusar o crescimento econômico pelos males do mundo e pelos problemas que inviabilizam ou destroem aqueles nove pontos descritos pelo indicador.
Mas pergunte a cada uma das pessoas que vivem nas diversas escalas da pobreza para saber se elas conseguem perseguir tais objetivos sem, antes, prosperar economicamente.
Atribuir ao Estado responsabilidades que são individuais faz com que a elite política no poder acredite realmente estar cumprindo uma nobre missão em nome de bem-comum, do coletivo, nem que para isso seja preciso esmagar a sociedade. Não se engane: a tutela estatal é uma espada de Dâmocles.
Se levarmos em conta o que acontece quando o governo desenvolve novas funções a partir da expropriação das riquezas que produzimos (no Brasil, trabalhamos de janeiro a maio só para pagar tributos), certamente a Felicidade Interna Bruta terá que alterar seu nome para outro bem menos alegre.
Por uma dessas ironias da história, a FIB foi criada em 1972 por Jigme Singya Wangchuck, rei daquele pequeno país chamado Butão.
Essa nação aparece no 141º lugar (de 187) do Índice de Desenvolvimento Humano 2011 da ONU, em 142º lugar (de 183 países) na lista do Doing Business de 2012, que mede a facilidade de fazer negócios, e em 111º lugar (de 179 países) na lista do Índice de Liberdade Econômica 2012 da Heritage Foundation (qualificado como país não livre, como o Brasil).
Certamente, a Felicidade Interna Bruta do rei de Butão era mais elevada do que a dos seus súditos.
(*Bruno Garschagen é mestre em ciência política e relações internacionais pela Universidade Católica de Portugal.)

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